16 janeiro, 2007

O FRACASSO DO AMOR


Foto Carlos Santos



Capítulo 12


Para mim és a mais linda. Não há pele assim. Sorriso rasgado e olhar penetrante. Não tens nada olheiras, não sejas parva. Quase não se nota. Claro que gosto do baton. É garrido mas fica-te bem. Andas e parece que deslizas. Perna longa e esguia. Danças e parece que voas. Meu pássaro lindo. Fosse permitido e comprava-te uma gaiola. Nunca mais de lá saías. Eras só minha. A minha passarinha. De mais ninguém.
Parece que ainda te estou a ver no primeiro dia. Eu deitado a fumar e tu, linda, a entrares sem bater. A porta estava aberta e tu não és de pedir. Avanças afoita, dás-te à morte em menos de nada, e o Whisky bebeu-o a colcha. Soube-me a pouco. Tu, não o Whisky, mas parecia a primeira vez. Uma estreia em grande sem ensaio geral. Um improviso sem público. Mas eu gostei. Aplaudi em silêncio e fiquei louco pelo regresso. Mas o destino é assim, imprevisto. Um homem descansado e a polícia a rondar. Nem tempo para os aprumos. Onde é que pus a merda das cuecas? Porra, estes gajos só aparecem onde ninguém os quer. Um gajo a derreter-se em impostos para isto. Bandidos nada, viste-os tu. Ranhosos.Vão mas é prender a puta que os pariu. Nome? Sei lá não a conheço. Ah, o meu. Luís. Luis quê? Olhe lá é mesmo preciso? Veio prender-me ou apresentar-se? Arronches, Luis Arronches. Idade? Muita. Sexo? O suficiente se não fosse interrompido. Tenho a mania que sou engraçado diz o puto, de peito feito a fiar-se no crachá. Mariola. Atrevido. Cabrão de merda. Não não tenho medo pá, ainda tu andavas de cueiros já eu vinha às putas. E nesses tempos é que era de arrepiar os cabelos do cú pá. Um perigo. Agora já não. E tu não gostas? Quando te faltar a tusa já não vale a pena. Venho muitas vezes venho. E venho-me algumas, mas nem sempre. Sabes, a verdade é que já não tenho mulher, mas ainda me sinto em grande. Podes prender-me, mas não te prometo nada. Cheira-me que voltarei sempre que puder. Sem medo.
A verdade senhor agente é que sem amor sinto-me a morrer, depressa. E não tenho mais ninguém. Um homem safa-se como pode. Vá, deixe-se de disso, vou-me embora e pronto. Era pior se andasse por aí aos miúdos, como esses cabrões dos pedófilos. Eu é mais miúdas, grandes e boas como as castanhas, docinhas, e esta vale a pena.
Olha o que te digo miúdo. Aproveita que não dura cá muito, estão sempre a mudá-las, aproveita.
A verdade senhor agente é que sem amor sinto-me a morrer, depressa. E não tenho mais ninguém. Um homem safa-se como pode. Vá, deixe-se disso, vou-me embora e pronto. Obrigado... Adeus boneca... até já. Tem que ser... não tenho mais ninguém.

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